domingo, 27 de outubro de 2013

Artistas joinvilenses avaliam Instituto Schwanke e MAC em Joinville

Artistas joinvilenses avaliam Instituto Schwanke e MAC em Joinville

Bate-papo artístico: Anexo conversou com Ricardo Kolb, Nilton Tirotti, Giovanna Fiamoncini e Sérgio Adriano H.

Artistas joinvilenses avaliam Instituto Schwanke e MAC em Joinville Alexandre Schwanke/Reprodução
Foto: Alexandre Schwanke / Reprodução
Tuane Roldão
Anexo — De que formas o Museu de Arte Contemporânea pode impactar na situação do setor em Joinville? Qual sua importância?
Sérgio Adriano H  Joinville ainda não descobriu a importância do museu e das artes para o impacto cultural e econômico. Aqui, não me refiro somente às artes visuais. A arte ocupa uma função indispensável na vida das pessoas e na sociedade, aprimora a civilização, nos leva a pensar em uma concepção melhor sobre o mundo, abre perspectiva de leitura e rompe preconceitos. É preciso que os governantes e a comunidade saibam da importância das artes para a construção de um 'ser pensante'.
Ricardo Kolb  Joinville sempre se manteve construtiva nos acontecimentos artísticos de Santa Catarina e acho quase natural que todo esse esforço culmine na realização de um museu semelhante ao Museu Oscar Niemayer em Curitiba. Isso, sem dúvidas, atrairá acontecimentos e exposições de artes contemporâneas, criando muita energia transformadora – não somente para as artes, mas para as pessoas em geral. O museu representa um espaço representativo e transformador para toda a cidade. O formato do museu é aberto, o que funciona como atrativo para trazer informação, pessoas de fora que contribuam com palestras, com ideias. É um espaço que possibilita o trânsito de ideias, incentiva, motiva, encoraja o surgimento de novos artistas. Tem potencial de tornar a cidade diferente, mais madura, cosmopolita, tratando de temas diferentes.
Nilton Tirotti  Ao instituir um espaço, estudado e planejado, para acomodar exposições, constroem-se referências proporcionadas pelas propostas variadas em exposições internacionais de arte contemporânea. As experiências estéticas vivenciadas na própria cidade favorecem o público e, em especial, os artistas a evoluir em sua produção. É uma grande oportunidade de desenvolver o lado humano das pessoas habituadas à dinâmica de uma cidade industrial.
Giovanna Fiamoncini  Acompanhei o drama de vários gestores à frente do Museu de Arte de Joinville para a construção de um acervo adequado para comportar as obras e sei que perdemos muito até a última gestão, comandada por Carlos Alberto Franzoi, conseguir realizar o projeto de climatização e catalogação do acervo do MAJ. Estive presente como conselheira consultiva e auxiliei, junto ao conselho, no processo de doação de obras. Fiquei impressionada como, em quase totalidade, o acervo é composto por obras tradicionais e não corresponde à realidade do que foi exposto em toda a sua história. E tivemos várias exposições importantes que simplesmente não tiveram doações ou não possuem também um registro de qualidade; é uma parte importante da história que perdemos. Joinville está mudando. Esse cenário nos mostra que o Museu de Arte Contemporânea é extremamente pertinente e necessário para a cidade e que há uma vontade coletiva maior para sua realização.
Anexo — Como o Instituto Luis Henrique Schwanke contribui para a difusão da arte contemporânea na cidade?
Ricardo Kolb  Primeiramente, o instituto tem por finalidade salvaguardar as obras, a história e, principalmente, o legado sobre arte contemporânea que o artista deixou. O local ajuda manter vivas suas ideias, reintegrando seus trabalhos aos circuitos expositivos pelo País.
Nilton Tirotti  Trata-se de uma instituição que está sempre atualizada com as questões da arte contemporânea e promove encontros com personalidades atuantes do cenário nacional. Há ocasiões para o diálogo direto, universo da arte e minhas inquietações nos projetos que desenvolvo. O instituto cria os acessos necessários para a pesquisa do artista em seu trabalho.
Giovanna Fiamoncini  O espaço é, hoje, a única entidade voltada exclusivamente à divulgação, ensino e preservação da arte contemporânea em Joinville. Faço parte de uma classe de artistas que produzem obras de essência conceitual e a oportunidade que eu tinha para absorver esse conteúdo – tanto para conhecimento quanto para inspiração e referências – era através de leitura e da internet. Experiências pessoais só eram possíveis através de viagens até outras capitais próximas, como Porto Alegre e Curitiba, ou aguardando as raras produções locais com essas características. Antes da criação do instituto, pouco se falava ou mostrava sobre esse tipo de arte em Joinville.
Anexo — O que você espera de um instituto e de um museu de arte contemporânea?
Sérgio Adriano H  O museu tem que ser uma prioridade e uma oportunidade para todos, rompendo alguns paradigmas e pré-conceitos – passando, literalmente, a ser uma opção de lazer para a população. 
Acima de tudo, conhecer arte contemporânea é conhecer a cultura atual. A Arte mudou porque nós mudamos. E o instituto tem a oportunidade de mudar seu entorno e nossa cidade.
Ricardo Kolb  Espero que traga uma grande transformação nos aspectos culturais da cidade, fomentando a criatividade em todos os níveis.
Nilton Tirotti  Um compromisso com a pesquisa em arte. Isento de preferências políticas ou de tendências conceituais para, de forma ampla, contribuir com a formação, o fomento e a fruição da produção em arte da região sul do Brasil. Uma instituição além das pessoas, um organismo vivo respirando cultura.
Anexo — Seu trabalho já sofreu alguma influência de Schwanke? Se sim, como funciona esse processo?
Sérgio Adriano H  Com cerca de oito anos, sentado no ônibus no terminal central de Joinville, olhei para a praça da Bandeira e me deparei com colunas feitas de baldes. Perguntei para minha mãe o que era aquilo. Ela respondeu que não sabia, mas que era arte. Foi assim que tive o primeiro contato com a arte contemporânea, e logo com uma obra do Schwanke. Em 2008, expus no térreo da antiga fábrica da Cervejaria Antarctica, antes que o prédio fosse interditado. Essa exposição marcou minha carreira e me tornou ainda mais admirador do Schwanke.
Ricardo Kolb  Não me espelho em si no trabalho, mas na postura de como ele abordava as questões da arte. Me inspiro nele pra construir algo que tenha virtude. Tudo é muito preconceituoso: dentro da nossa concepção podemos não querer fazer algo por não considerar importante; por isso, olhando para o outro, podemos ver algo substancial que nem todo o mundo enxerga, que não havíamos visto antes. Arte não tem uma regra, uma linha que você segue criando dogmas. Arte é liberdade, possibilidades.
Nilton Tirotti  Não percebo uma influência direta, porém, conhecendo os seus métodos de criação e discussão de suas ideias com pessoas da área, sou estimulado a olhar e ouvir o meu entorno profissional.
RICARDO KOLB
Graduado em design industrial pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas atua como artista plástico autodidata desde 1988. Participou de mais de 30 exposições coletivas e individuais e recebeu alguns prêmios – como, em 1989, no 2º Salão Aaplaj da Paisagem Urbana; em 1994 e 1995, no Salãode Artes de Itajaí; e em 1996, no 4º Salão de Artes Victor Meirelles. Ele é membro do Colegiado Nacional de Política Cultural (CNPC) do Ministério da Cultura no setorial de artes visuais. Atualmente, trabalha em uma exposição itinerante patrocinada pelo Sesc-SC.
NILTON TIROTTI
Nasceu em São Paulo, mas vive em Joinville desde 1996. Graduado em design dez anos antes, concluiu mestrado na mesma área em 2003, pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc). Entre as exposições que participou, destacam-se o 9° Salão de Artes de Itajaí, em 2003, e o 9º Salão Chapecoense de Artes, em 2011, nos quais o artista foi premiado. Entre 2009 e 2012, fez parte da equipe gestora da Fundação Cultural de Joinville.
GIOVANNA FIAMONCINI
A joinvilense é formada em desenho industrial com habilitação em programação visual pela Univille e especializada em Inovação e gestão do design. Realizou a exposição individual Chronos (Galeria de Arte Victor Kursancew, 2000) além de ter participado das coletivas +Femina  (Museu de Arte de Joinville), 31º, 32º e 33º Coletiva de Artistas de Joinville (Museu de Arte de Joinville, 2001, 2002 e 2003). Fundadora e integrante do grupo de performance Impar desde 2002, participou de diversas intervenções urbanas e happenings, incluindo a participação na obra Anarcademia, de Dora Longo Bahia (28º Bienal de São Paulo, 2008).
SÉRGIO ADRIANO H.
Foi atleta por mais de dez anos, até que, em 2001, teve o contato inicial com o mundo artístico na Casa da Cultura, em Joinville. No ano seguinte, iniciou o curso de Artes Visuais na Univille. Desde então, já realizou cerca de 70 exposições e performances e foi premiado no 1° Salão dos Novos de Blumenau e no 10° Salão Nacional de Arte de Itajaí. Em 2013, foi selecionado com o Grupo P.S. para o Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural. No momento, cursa mestrado em Filosofia da Arte e Semiótica na Faculdade de São Bento, em São Paulo, e trabalha no projeto Impressões do Tempo e suas Inquietações.
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