quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Adivinho

Adivinho

A mitologia grega está repleta de diversos personagens com a finalidade precípua de revelar ao homem os desígnios dos deuses bem como o de descobrir que surpresas lhe reserva o destino. O grande interesse com que os gregos vasculhavam o futuro aumentava à medida que as circunstâncias adquiriam um caráter adverso, ou seja, era justamente durante as crises, fossem elas grandes ou pequenas, de caráter pessoal, familiar ou social, que a consulta aos mensageiros dos deuses aumentava. Oráculos, pitonisas, sacerdotes, adivinhos e sacrifícios são palavras que abundam na mitologia e que o antigo grego estava mais do que familiarizado. Mais do que palavras, traduziam a fé do homem de então na existência de um poder superior e na possibilidade de relações recíprocas com este poder. Cada vez que um mortal dirigia uma pergunta a um deus, a resposta que recebia era denominada oráculo. Entretanto, a palavra se confunde muitas vezes quando adquire a conotação de santuário. Dentre os santuários mais famosos destacam-se o de Delfos e Delos, dedicados a Apolo ; o de Dodona, o mais antigo santuário e dedicado a Zeus ; o santuário em honra a Trofônio na Lebadéia, dedicado a Baco em Anficléia, entre outros. Como intermediário entre os deuses e o homem, estava a pitonisa que sentada sobre um tripé proferia os oráculos.

A pítia, como também era chamada era inicialmente a sacerdotisa de Apolo em Delfos e recebeu esse nome em alusão ao fato do deus haver eliminado a serpente Píton. Com o tempo, contudo, pitonisa obteve a conotação de todas as mulheres com o poder de revelar o futuro ou de transmitir a vontade dos deuses. Entretanto, o homem inquieto pelo conhecimento do futuro procurando meios de conhecê-lo não se limitava aos oráculos das pítias mas estendia-se também à arte da adivinhação. Duas formas de adivinhação se distinguiram, a indutiva e a intuitiva. A primeira delas, conhecida mormente por artificial, era assim chamada porque estava fundamentada em sinais exteriores e em sua interpretação e a segunda, conhecida por adivinhação natural, ocorria por pura impulsão do espírito. Tanto uma quanto outra era adotadas conjuntamente pelos gregos que valorizavam muito não somente os adivinhos quanto os intérpretes de sonhos e os sacerdotes que gozavam de grande prestígio na sociedade helênica e exerciam grande influência sobre as pessoas.

Tirésias, se não o maior, era considerado certamente um dos mais notáveis adivinhos da mitologia grega. Filho de Everes e da ninfa Cariclo, conhecia o passado, presente e o futuro, além de interpretar o vôo e a linguagem dos pássaros. Entretanto, Tirésias era cego e a origem de sua deficiência encontrava explicação em duas versões distintas. Segundo uma tradição, certa feita, ao escalar o monte Citerão, viu duas serpentes copulando. Tirésias, que era jovem, na ocasião, além de separá-las, matou a fêmea. Imediatamente, o rapaz se transformou em mulher. Passados sete anos, quando Tirésias passou pelo mesmo local, viu novamente duas serpentes na mesma situação e procedeu da mesma forma, só que, ao invés de matar a fêmea, eliminou o macho. Em seguida, recuperou seu sexo masculino. Como possuía a experiência dos dois sexos, foi chamado a arbitrar no Olimpo uma grande controvérsia entre Zeus e Hera . A discussão versava sobre quem teria maior prazer durante o ato sexual. Tirésias, ao responder sem hesitar que era a mulher, despertou a ira de Hera. Esta, julgando ter ele denunciado a superioridade do homem, visto que seria ele o causador de tamanho prazer à mulher, implacavelmente o cegou. Zeus, porém, apiedou-se de Tirésias e lhe ofertou como compensação o dom da mantéia, ou seja, o tornou capaz do conhecimento do futuro, além do privilégio de sobreviver a sete gerações humanas. A segunda versão dá conta de que certa feita, Atená banhava-se nua numa fonte quando percebeu que era admirada pelo jovem Tirésias. A deusa cegou o rapaz mas, a pedido de sua mãe, Cáriclo, sua fiel companheira, concedeu-lhe o dom da adivinhação e a capacidade de compreender a linguagem dos pássaros.

Melanipo que significa “de pés negros” recebeu este nome porque ao nascer, sua mãe o protegeu do sol debaixo de uma árvore, mas por descuido, deixou-lhe os pés ao sol. Era uma criança como outra qualquer até que certo dia, tendo encontrado uma serpente morta, foi movido por grande piedade, sepultando-a. Seus filhotes, como prova de sincero agradecimento, lamberam seus ouvidos e tornaram-no capaz de compreender a linguagem dos animais e entregaram-lhe o dom da mântica. Melanipo tinha um irmão, Bias, que desejava muito esposar Pero, filha de Neleu, rei da Messênia. Este último impunha como condição a todos os pretendentes da filha que roubassem e em seguida lhe trouxessem os rebanhos do rei Fílaco. O adivinho, por amor a seu irmão, tentou praticar o delito, porém apanhado, foi colocado numa prisão. Já se iam meses quando Melanipo ouviu dois cupins que conversando mencionaram que em breve, seu trabalho estaria terminado e que a cela ruiria. Por isso, o vidente pediu que fosse trocado de cárcere. Mal havia sido transferido de cela, a antiga desabou ficando totalmente destroçada.

Calcas ou Calcante, herdou de seu avô, Apolo, o dom de decifrar os mistérios do passado, presente e do futuro e era o adivinho da vida militar dos gregos e por isso, foi eleito como grande sacerdote e adivinho oficial da Guerra de Tróia . Nada importante era resolvido sem que antes ele fosse consultado. Foi dele a previsão que o cerco a Tróia teria a duração de dez anos e e também foi ele quem aconselhou ao rei Agamemnon o sacrifício de sua filha Ifigênia e que devolvesse Criseide a seu pai. Há muitas versões para sua morte, mas segundo a mais popular, Calcas havia sido avisado por um oráculo que morreria quando encontrasse um adivinho que lhe superasse. Foi assim que, terminada a guerra, já em viagem de regresso à pátria, chegou à Cólofon, onde vivia Mopso, filho de Apolo e neto materno de Tirésias. Foi-lhe proposto um concurso de adivinhações ao qual Mopso saiu-se vencedor. Calcante faleceu de pesar.

Cassandra e Heleno, eram irmãos gêmeos, filhos do rei de Tróia, Príamo e de sua mulher Hécuba. Foram encontrados certo dia, no templo de Apolo, entrelaçados por duas serpentes que lhes purificavam os ouvidos com suas línguas, motivo pelo qual passaram os dois irmãos a possuir o dom da profecia. Há outra versão na qual Apolo, enamorado da princesa troiana, concedeu-lhe o dom da vidência, em troca de obter seu amor. Mas Cassandra, recebido o dom da profecia, não honrou sua palavra e o deus, por não poder retirar-lhe a dádiva, tirou-lhe o dom da persuasão: embora suas profecias fossem verdadeiras, ninguém nelas acreditava. 
Ainda se podem citar Mopso II, adivinho que celebrizou-se participando da expedição dos Argonautas , Anfiarau que lutou na guerra dos Sete Chefes e seu filho, Anfíloco que na expedição dos Epígonos combateu os tebanos para vingar a morte do pai.
http://www.algosobre.com.br/mitologia/adivinho.html

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